Microdose de PunkYoga #10
Eu adoro assistir esses reality shows de pegação. Comecei vendo De Férias com o Ex e aí foi só ladeira abaixo... Vi também o Brincando com Fogo, que é genial, porque é um reality de pegação que as pessoas não podem se pegar. Ou melhor, elas até podem, mas, cada vez que se pegam, perdem uma parte do dinheiro do prêmio, então os participantes começam a se vigiar e Foucault com certeza seria um espectador feliz desse show.
Recentemente, assisti ao Túnel do Amor, e fiquei impressionado com capacidade que os produtores de TV têm pra inventar coisas. Nesse, os participantes entram em duplas de amigos, mas cada um fica em uma casa diferente, que é conectada por um túnel, onde rolam os matchs e altas confusões.
O que mais me encanta é ver como a monogamia opera nesses sistemas. A pessoa deu um beijo mais apimentado na outra e os dois automaticamente já pressupõem que estão presos um ao outro por um contrato invisível. Se as duas pessoas estão de acordo, beleza, tem nem o que dizer... Mas quase nunca estão. E nunca estão porque são jovens & lindos que estão ali pra chupar o máximo de línguas possível. E são péssimos em se comunicar. E é justamente daí que vem o entretenimento do reality: da inabilidade que as pessoas têm de construir uma relação baseada na sinceridade dos seus próprios sentimentos.
Em apenas alguns episódios, já é possível acompanhar todo o arco de uma relação que vemos na vida real. As pessoas se aproximam, se apaixonam, brigam por ciúme, se separam e voltam, ou terminam de vez. Tudo isso com muito dedo na cara e gritos de "filho da puta". Sei que não é o tipo de entretenimento mais saudável, mas eu não consigo parar de ver.
Acho que, de certa forma, fica cada vez mais claro que a maioria dos problemas de casais simplesmente não existiria se as pessoas aceitassem o fato de que tanto você quanto a pessoa que você gosta podem se interessar por pessoas diferentes. E isso não elimina o fato de que ambos continuam se gostando — mas é claro que isso precisa ser comunicado, se não é só filhadaputagem mesmo.
Isso também não quer dizer que a não monogamia não tenha problemas. Tem um monte. Mas são problemas novos, que não vemos nos reality shows, nem nas novelas, nem nas músicas. Quem sabe um dia exista um reality não monogâmico pra gente poder julgar?
O que eu andei lendo:
🤪 Espiral #74: Minha experiência no SXSW 2023, na newsletter Espiral. A Lalai Persson é uma trendsetter do cacete. O relato que ela fez sobre a SwSx dese ano vale mais que barras de ouro.
🙂 As plantas cidadãs do mundo, da Luiza Caires, na Quatro Cinco Um. Enquanto não paro pra ler os livros bonitos do Stefano Mancuso sobre plantas, me contento com as resenhas.
😕 A conversão da última umbandista do quilombo Teixeira, Géssica Amorim, no Marco Zero. Desde que assisti ao doc Ex-Pajé, essas histórias de conversão ao neopentecostalismo me deixam com um ódio que eu nem sei onde enfiar.
🤓 A ioga e a fofoca, do Kelvin Falcão Klein, na Quatro Cinco Um. Sobre o ótimo livro Ioga, do Emmanuel Carrère, que eu tô lendo agora.
🫠 Caderno do LSD: Paulo Mendes Campos, da Elvia Bezerra, no site do Instituo Moreira Salles. Durante a apuração de uma reportagem que escrevi pra revista Cult, me deparei com esse texto ótimo sobre a chegada do LSD no Brasil, nos anos 1960.
🤑 Como ‘vazio legal’ impulsiona consumo e venda de cogumelos psicodélicos no Brasil, na BBC Brasil. O estranho caso da substância que é proibina mas não é tão proibida assim, porque, afinal, ninguém pode proibir a natureza.
🧐 Cómo los psicodélicos están reavivando el judaísmo, no El Planteo. Texto fascinante sobre como as experiências místicas com cogumelos podem rescussitar a fé de lideres espirituais.
🤓 Veja imagem surpreendente de estrela a 15 mil anos-luz da Terra, no Correio Braziliense. Imagem impressionante feita pelo telescópio James Webb (JW), de uma estrela perdendo suas camadas de fora, ou seja, ela tá morrendo. Eu sou completamente maluco pelas imagens do JW, o sucessor do Hubble. Na época em que trabalhei na Galileu, editei esse ótimo e pequeno especial sobre o telescópio, escrito pelo talentosíssimo Bruno Vaiano.
O que eu andei vendo:
VÍDEO: Chadh Chadh Jana, no Coke Studio India. Os caras transformaram os versos de uma história tradicional hindu num drum 'n bass muito louco.
VÍDEO: Bom mesmo é estar de baixo d'água, album visual da Luedji Luna. Fica mais bonito a cada assistida.
SÉRIE: Enxame, no Prime Video. Essa série do Donald Glover sobre uma menina que mata pessoas que odeiam seu ídolo é muito estranha. Adorei.
SÉRIE: Falas da Terra, no GloboPlay (disponível no YouTube). Você já viu alguma produção com TRÊS protagonistas indígenas? Pois é, eu também não, ainda mais dentro de uma história tão boa.
DOC: Tina, na HBO. Sensacional a história dessa mulher.
FILME: Close, na Mubi. Filme belga indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, que conta a triste história de formação da masculinidade de um homem. É doído demais pra uma pessoa LGBTQIA+, principalmente gay, ver na tela algo seu que parecia ser tão íntimo. Não, não chorei não, imagina...
DOC: Who shot the scherif?, na Netflix. Não conhecia a história desse atentado ao Bob Marley e o trabalho que ele fez pra unir uma Jamaica estilhaçada.
O que eu andei ouvindo:
PODCAST: Anitta, no Quem Pode Pod. Tô adorando a versão zen da Anitta, foi legal ouvir ela falando sobre espiritualidade e como isso afeta o trabalho dela.
PODCAST: O clone do pai da Bia, no 37 graus. Nunca pensei que genética fosse tão legal.
PODCAST: Um encontro com a ayahuasca, no Relatos Psicodélicos. O Bruno é um excelente pesquisador e narrador. Esse é um dos trabalhos mais completos que já vi sobre ayahuasca. Vale a pena ouvir todos os outros episódios.
Eu estou participando da organização da Marcha da Maconha de Ubatuba, cidade onde moro. Por isso, os últimos dias foram insanos (pra quem não foi?), mas eu não tirei a PunkYoga da cabeça.
Essa edição estava semi-pronta pra enviar, mas quem disse que eu achava tempo pra fechar? Obrigado aos amigos que cobraram o envio (Eloá, estou olhando pra você). Gosto muito de saber que existem pessoas interessadas nesse amontoado de palavras que eu organizo aqui.
Vejo você daqui a 15 dias, com a edição regular desta humilde newsletter.
Com amor y anarquia,
Nathan